FONTE: Aprendizado Acelerado
Estar acompanhado ajuda ou acaba com sua sessão de estudo?
Algumas pessoas se distraem, não conseguem se concentrar e costumam transformar o momento de estudo em uma conversa entre amigos. Já para outras, estudar acompanhado é essencial e faz toda diferença no resultado final, especialmente para assuntos novos. O que explica essa diferença?
Para descobrir isso, precisamos entender a ideia de sobrecarga cognitiva.
Você já se sentiu sobrecarregado durante os estudos?
Essa sensação deve ser familiar para você… Abordando um conteúdo novo, chega um momento em que parece que o livro “deu um salto”; de repente começou a falar de algo que você não consegue entender. Você lê, relê, mas aquilo parece ser coisa demais para processar. Não é nem que o assunto seja difícil, mas a impressão é processar coisa demais ao mesmo tempo. Se você já sentiu isso na pele é porque se deparou com nossa limitação cognitiva.
O nome parece complicado, mas a ideia é bem simples. Imagine uma estrada muito larga, com várias vias de passagem. Se você que transportar um grupo de carros de uma cidade para outra, um dos fatores a considerar é o trânsito: quantos carros estão na estrada? Quantas mãos estão ocupadas? Se a estrada tem mais vias livres, é possível passar um volume maior de veículos. De modo similar, funciona sua capacidade de processar novas informações. Não importa se você se acha inteligente ou não, todo ser humano tem um limite de processamento.
Nossa memória de curto-prazo é bem limitada, sendo capaz de manter pouquíssimas ideias em foco (alguns estudos apontam entre 5 e 9 enquanto outros, de 3 e 5). Se estamos estudando algo novo, mesmo que não seja difícil, a mente faz bastante esforço para acompanhar cada pequeno detalhe e tentar combinar tudo em uma compreensão do tema. Pode ser que você se sinta sobrecarregado mesmo sem achar o tema difícil. É apenas uma questão de ter atingido o limite de processamento atual.
O caminho ideal do zero ao aprendizado
Uma parte significativa dos esforços na área de pesquisa pedagógica é direcionada à busca de formas de minimizar a carga cognitiva sobre os alunos, de modo que eles possam ser mais produtivos durante os estudos. Pesquisando o tema à fundo, encontrei algumas ideias que são úteis mesmo para quem estuda por conta própria e não passa muito tempo na sala de aula. Uma delas é scaffolding, do português “escadinha”.
O princípio do scaffolding é criar uma progressão ao estudar o conteúdo, de modo que o estudante comece com as ideias “o mais claras possível” e, conforme for aprofundando seu entendimento, vai absorvendo os detalhes do assunto. Esse método é o contrário do modelo tradicional, que envolve empurrar muitos fatos goela abaixo dos alunos e esperar que eles memorizem. Por isso, o nome da abordagem é chamada flip learning.
Flip learning: todas as fases do estudo eficaz, em um só lugar
Um estudo bem elegante, realizado por Femke Kirschner e uma equipe de pesquisa trouxe resultados interessantes, que ecoam o que aconteceu em estudos anteriores.
Ao comparar estudantes (dos mais diferentes perfis) que estudaram em grupo com aqueles que estudaram sozinhos, não houve dúvida: estudar em grupo foi melhor para o aprendizado.
O que os resultados sugerem é que o grupo compartilha a carga cognitiva de estudar algo novo. Lembra como vimos que todo cérebro tem um limite de atividades que consegue fazer ao mesmo tempo?
Um grupo de estudo consegue “expandir” esse limite, já que há mais cabeças (“mais potência”) processando o mesmo assunto. Desse modo, estudar em grupo traz resultados significativos para os participantes, especialmente nas primeiras fases de contato com o conteúdo.
Seguindo o modelo do flip learning, a progressão é a seguinte:
- Comece pelos princípios gerais com a teoria do livro. Não quebre a cabeça com detalhes, tente entender o cenário inteiro antes.
- A seguir, passe para os exercícios resolvidos. Começando com os mais simples, sem muito contexto, para que você possa entender a lógica por trás da questões.
Agora que você já entende como funciona, é hora de colocar a mão na massa. De início, basta começar com exemplos simples, para “completar”. Com essa base desenvolvida no assunto, chega o momento de aborda-lo por completo (incluindo os detalhes!). Nessa hora, estudar em grupo pode ser útil pelo que vimos: “duas cabeças pensam melhor juntas”.
Depois de estudar em grupo e absorver o tema como todo (incluindo os detalhes), é hora de praticar por conta própria (solução de problemas) e corrigir os pontos fracos (prática deliberada).
O lado negativo de estudar em grupo
Quando os pesquisadores trabalharam com grupos diferentes de estudantes, a tendência era pegar um conteúdo que nenhum deles dominava e colocá-los para trabalhar juntos. No dia a dia, há dificuldades que não aparecem naquelas situações. Todos os desafios do estudo solitário podem surgir nos estudos em grupo se ele não for bem coordenado. Por exemplo, problemas como distração podem se agravar pela possibilidade de conversas. Sem falar que há muita diferença: alguns já sabem o assunto e querem praticar, enquanto outros nem tocaram no livro.
Em alguns casos, ao invés de estudo em grupo se torna uma sessão de ensino entre aqueles que já viram o assunto e aqueles que não estudaram. O que, por si só, não é ruim. Ensinar é uma ótima maneira revisar seu domínio sobre o conteúdo. Contudo, se você planeja estudar em grupo, é preciso que todos estejam mais ou menos no mesmo nível de preparação. Caso contrário, você pode se prejudicar, perdendo tempo.
Veredicto: melhor só ou acompanhado?
A melhor resposta seria: cada um em seu momento. Estudo em grupo não substitui o tempo sozinho. Por sua vez, o aprendizado pode ser mais rápido se você fizer os exercícios mais complexos em grupo. O bom é unir o ponto positivo dos dois mundos e, para fazer isso, há o método flip learning para organizar seus estudos. Na hora de estudar em grupo, basta tomar algumas precauções para que a sessão seja produtiva.
E você, como costuma estudar?